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Amo-te

Amo-te no silêncio, que é de ouro E as almas se tocam pelo olhar Amo-te sem a prata das palavras Que se limitam a arrancar a máscara E deixo de lado, os artifícios, o ruído Tudo o que é demais e me consome Porque apenas o teu abraço importa, À minha espera, fiel como a manhã Enquanto a vida foge, igual ao tempo Que escapa fácil e nos passa à frente

A perda

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Todos os dias a perda é navio Que arrasa as vagas e as supera, À procura do porto inexistente E da baía onde a dor se acalma Onde a ferida se esquece da origem, As lágrimas secam na nascente, Já esgotada, e a mágoa amansa, Impedida de passar a margem E mais um dia, um mês, um ano O tempo nada cura, é um engano, Porque a dor é galope em desatino De cavalo doido, a correr sem freio, Depois de dócil ter andado à rédea, Esquecido do odor do desafio, Da dor da espora, da espera

Espírito Livre

Frágil sou e difícil, como água, Que nunca se controla, nem se pára Espírito livre, à espera de ser garra, Águia a voar sem ter amarras A que se turba com o cantar do mar, O velho que tropeça de cansaço, Ou a luz do sorriso da criança A que se curva perante a singeleza De quem ama a vida sem limites, Abraça a mágoa pela margem E diz uma prece sem palavras Ao Deus do qual não tem imagem

Noite Negra

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Hoje a noite é negra, de cuidados E da minha alma sair por aí fora Pássaro a voar em círculos pequenos, Diminutos, à procura do secreto Esconderijo, onde a bruma me protege E a dor amadurece sem ar nem folga Hoje a noite é de gritos engolidos, Passos sem sentido e um luar calado, Sem mistério nem palavras de amanhã Onde o mundo deixou de ser abrigo A casa um lugar de colo e ânimo E o abraço se perdeu de tão perdido

Pássaros

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Os pássaros elevam-se às alturas Porque julgam que as suas asas São de Anjo E o Homem, altivo e sempre Preso à terra pelo corpo exangue Roga em altares de ódio e euforia, Pelo tempo que não tem Ignorando que da morte vem a vida E só ela lhe permite ir mais além...

Mãe

Mãe de abraços, correrias e cansaços Cheia de risos, conversas atabalhoadas E um amor silencioso, aos pedaços Mãe que foi menina, mulher depois, À espera que a vida acontecesse, Capaz de calar medos e ensinar a amar Ombro livre para as muitas lágrimas, E colo secreto e frágil a cheirar a rosas Porque é que Deus, te abriu os braços E não te fez eterna como os astros ?

De ti, quero tudo ...

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De ti quero os lábios, Melhor, a boca inteira O sorriso irónico, e tímido O riso fresco, e tímido O olhar, claro, assustado, negro E as mãos, fortes, firmes Mais a respiração pesada, sem controlo O espasmo, as sinapses, A sobrecarga eléctrica Que faz o beijo acontecer, inevitável De ti, quero tudo, até o mundo ...

Afortunada

Um pássaro tentou arrebatar-me Noite passada, chorosa, de viúva Cobriu-me ágil, com a longa asa E levantou voo, rápido, sem escusa Cruzou nuvens, calado, em voo raso E depois de voltear, perdeu sentido Deixou-me livre de novo, pés na terra Parece que era outra a hora do castigo E aqui me tenho e sinto, afortunada Por desconhecer ainda qual o caminho Que um dia qualquer me levará Ao lugar inexorável, do (meu) destino

Manhãs

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 Há um cheiro a infância nos lençóis Sempre que o Sol acorda e é domingo Manhãs na cama, a dormitar, a ler, Pequenos ruídos da azáfama da casa, Quase imperceptíveis e amigos. Lembro o calor das torradas, do café, As conversas dos pais, em surdina O cantarolar do pintassilgo na gaiola Ou seria um canário ? Cor de rosa ? E a vida, a pedir para ser vivida...

O tempo escasseia

Já não me abraças, nem me vês O teu olhar retém apenas a sombra Do meu passo, voo de ave perdida Nas alturas, a desfrutar do vento E o tempo escasseia ... Já não sinto a tua mão na minha Nem o beijo, que antes era meu E o teu corpo é estranho, indiferente, Calado, entre os lençóis de antes E o tempo escasseia ... Depois há a memória de como era, Feliz às vezes, outras a doer demais, Silenciosa e dura, à espera que o amor Ressurja e volte a ternura E o tempo escasseia ...