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Dia inconcebível

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Um dia, o dia será… diferente, Dia inconcebível, apocalíptico, de luz pintada a negro e frio, com pequenos ósculos acanhados e abraços inconsequentes embalados pelo cantar dos ventos Dia de risos nervosos, assustados enquanto os olhares se escondem compassivos, acobardados e o coração exangue vagueia tonto à procura do túnel prometido, pelo meio de mil sombras enlutadas É o momento da luz? Da escuridão? O abismo da ausência? O arco íris? A verdadeira vida para ser vivida? Ou apenas um sonho antes do acordar?

Só te amo porque...

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Só te amo porque te invento Calado, frágil, leal e eterno Capaz de chorar sem saber porquê E abraçar os medos, uma, outra vez Amo-te assim, porque és o outro além De mim, que desconheço mas imagino, Maior que o sonho, sem mesquinhez, Amor precioso, por mim cuidado Como flor rara a desabrochar E mesmo no tempo do fim do tempo Em que é certa a hora da despedida É por ti que anseio, mão dada ainda Com o mar à espera do outro lado

Silêncio é ouro

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Não digas nada... nada, porque o silêncio é ouro e as palavras demais e todos as querem dizer por pena ou desatino Deixa-as ficar caladas no aconchego da garganta, silenciosas e contidas, enquanto a pele lateja e o desejo sobe rio acima à espera da solidão da manhã depois da ardência noturna Olha-te devagar, compõe a nudez, vai à janela e respira fundo, assumida, liberta e doce, sem culpas nem remorsos, orgulhosa do corpo, do ventre, da essência de ser mulher, e ser maior que o mundo Mãe e terra à espera do futuro

Sem ti

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 Vivo sem ti. Por vezes até esqueço o som da tua voz, o contorno do rosto, o olhar a chover mágoa, o riso franco Olho o teu retrato e surge a ferida, a abrir no peito, funda, em progressão, ‘Vibrio’ insaciável e maligno que me arranca a vida, aos poucos e afasta a luz, que ainda era benção É hora de resgatar a dor, o perdão, a paz também; acolher a mágoa, e perdoar ao tempo ter ficado aquém

Amor e Ódio

É nas pequenas coisas que te amo, olhares fugidios, mãos ásperas que tentam cuidar, o calor do abraço, o partilhar receios, dores, e cansaços, mais as musicas, os risos, muitos risos e os actos falhados, os embaraços .... Mas também odeio muitas outras coisas, a fuga ao confronto, quando inseguro te esquivas a incómodas respostas e manténs a máscara, a armadura ou finges desprezar quem mais te ama, para não rasgar bandeiras.... e o medo, sempre constante da ternura

Fénix

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E se o fogo se extingue e eu sou a cinza e nunca a Fénix? E se só te amo quando te sinto? - momento mágico dos nenúfares e das estrelas que implodem, momento do canto da ave noturna e do adivinhar da sombra da lua a esconder-se na noite. Nunca hei de ser a luz jubilosa ao sol, nem hei de acordar as folhas dos lírios quando a máscara os torna em flor Sou não mais a brisa que se quer vento e se perde na esquina da mágoa Apenas carne, sangue, intento, e ser, consciência, espírito e alma

Lugar seguro

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Quero um abrigo seguro, oculto, onde prender as memórias e agarrar a substância da vida, como se a pudesse controlar Quero esquecer que o tempo não é mais que o rio ininterrupto, onde construo as finitas pontes que me levam a todos os lugares E quando no fim avistar o mar Quero a alma solta e límpida, como se o amanhã fosse hoje e eu um pássaro livre para voar

Olho-te

Olho-te terna, assombrada puxo a coberta amarela que tapa o teu corpo sonolento e tudo se dispersa em névoa, as discussões mais fúteis, os confrontos absurdos, as pequenas guerras inúteis e o cansaço do futuro. Vejo te confiante no sono como pássaro preso ao ninho e o meu coração aperta pela antecipação da perda. Já não amarrotamos os lençóis, nem ansiamos a devassa dos corpos e os abraços fogem na rotina, onde o beijo é cada vez mais raro. Mas é contigo que quero ficar, sempre, enquanto aqui estiveres e eu me conseguir lembrar . . .

Luz da manhã

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  Depois do acordar lento do sono, Que amante me abraçou na noite A luz da manhã caiu de chofre Obrigando-me a cerrar os olhos Para me desnudar depois suavemente A realidade surgiu então, abrupta, Povoada de sombras mascaradas, Sonhos e devaneios meio delirantes Até que o espelho gritou sem clemência Quem és tu que vejo à minha frente ?

"A curva da estrada"

Esta noite sonhei com a morte. A morte que é inevitável e me assombra; a que aparece nos mitos e nos ritos e ajuda a manter o domínio de uns poucos sobre muitos. A morte, bordão das religiões e cuja ameaça serve para alimentar narrativas mais ou menos transcendentais, de virtudes obrigatórias e pecados com castigos eternos, destinados a quem não segue as regras, mas também a todos os outros, porque não há puros. Anjo negro, ceifeira, caveira, símbolos dum universo construído para fazer pensar em como ela, a Morte, é omnipresente e implacável. Ela, "a curva da estrada", como disse o poeta multiplicado, a nossa mais fiel companheira, que nos segue como sombra, paciente e atenta, sempre à espera do momento certo para nos olhar nos olhos, dar a mão e levar em viagem para o desconhecido. Esta noite sonhei com a morte; olhei o espelho; não lhe vi a sombra, nem lhe senti o cheiro. Será que do outro lado estava a "curva da estrada"?