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Diário ll

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Amo o teu sorriso enigmático Que salta lesto da moldura Quando a manhã acorda Ave solta sobre as vagas Dos mares que navegámos À procura de todos os mistérios E depois repiso os dias Em que não amanheces Em que não sinto o teu abraço, As dúvidas, a revolta magoada E o mundo igual a sempre, A desaguar no espaço Enquanto olho, desarmada Para esta saudade que arrasa Para esta dor que mata ...

Companheira

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O que mais me dói não é a dor que sinto a toda a hora Aquela que habita e magoa, intrusiva e áspera, sem pejo , capaz de fingir ser amiga e me abraçar quase com desejo Pior dor é a que se disfarça e persiste como companheira sem se dar valor da dor que é Amante antiga, habituada a ser ignorada, mas mantida por hábito, por inércia, por fé, E fica amor para a vida inteira

Corpos

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Há uma voz perdida nas ruas, Fugida ao vozear das praças Que se esconde no silêncio das paredes, E acorda livre e pura entre lençóis Voz sem palavras , suspensa Em corpos pintados pelo tempo E construída passo a passo Como um pássaro a tentar voar Voz sem idade , permanente e viva Oculta na urgência da cidade Na esperança que o amor se espalhe Como sorriso a quebrar o aço

Dia das Bruxas

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Hoje é dia de cinza , de murmúrios , De vultos cabisbaixos , enegrecidos, Que se escondem nas sombras , atrás das pedras à procura da dor Dia das almas, dos espíritos , De esquecer o esquecimento E olhar de frente a morte , sem pudor Saber dizer depois, adeus, se ela surgir E nos abraçar como amiga derradeira Anjo negro, sombrio, enganador De mil promessas, para nos levar De volta à luz , às trevas , onde for... ………………………………………… Dia do criador exigir a criatura …

Dúvidas

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Não sei porque dói aquilo que sinto E porque me pergunto sobre tudo Vejo o sol que incendeia a planície Onde o vento ajoelha e reza, A bendizer a terra que o acolhe, As asas brancas das montanhas em preces indizíveis, O belo que arrebata e espanta, Trazendo orvalho e luz aos olhos, Na mais pequena obra do criador E agradeço o milagre de estar vivo Que tanto me inquieta a alma, Amansa a dor e afasta o pranto

A colina

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Hoje faço luto por mim, Porque esqueci as tuas mãos A voar como aves novas Sobre as minhas ancas E o meu corpo não é mais a colina Que subias ansioso Quando madrugavas Hoje faço luto por ti, Porque o riso não acorda mais A tua boca O sol esqueceu o teu olhar E o teu cheiro a árvore verde Já não traz memórias Nem desejos de passado Hoje o dia é de sepultar vozes, Gestos e sentidos, De fingir que a dor não dói, Enquanto a alma implode E os lírios beijam as rosas

Ninguém sabe

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Ninguém sabe da dor, Ninguém sabe das lágrimas Porque o sorriso voa feito pássaro, A boca esconde a mágoa E os dias entardecem iguais Até que o espanto irrompe em caos O ar recua amedrontado A pele seca arrepiada e o momento De soltar o grito se faz espada E o que já foi tudo agora é nada

Amanhece

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Quando amanhece As silhuetas tornam-se visíveis E os sons acordam o silêncio É a hora certa para definir o tempo E abrir os olhos Hora do espelho mostrar quem somos Sem disfarces, Dos segredos serem desvendados E a verdade revelada Enquanto o mundo, sem pudor, Resignado à mordaça, À mascara que o cega, Absorto em vez de vigilante, Fica à espera de rios sem margens, De mares sem vagas, De milagrosas varas de condão, Até que o virar do espelho Mostre a sua verdadeira face

Acordo a escuridão

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Acordo a escuridão Abafo os gritos, o silêncio, Quando displicente Calas o murmúrio das paredes E me largas amarrotada, Esquecida na dobra do lençol Esquecida na cama, onde o amor Perdeu sentido e voz Até a fuga se tornar obvia Para escapar à ausência Do corpo, do arrepio, de ti, E ainda me lembrar de mim

Lilases

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Já não há dedos ansiosos, Olhares atentos, cúmplices, Abraço, cheiro da pele, Urgência faminta do corpo, Gritos abafados, murmúrios, Risos, lágrimas E conversas descuidadas Já não vejo o jarro azul, Meio de água A escorrer no tapete desmaiado E a tal canção francesa A insinuar-se entre os lençóis, Adereço essencial de cena De amores (des)encontrados …E os lilases continuam mortos